Coleção Antiprincesas e o olhar latino

A coleção de livros infantis Antiprincesas criada pela editora Chirimbote, na Argentina, já prepara novos lançamentos com contos inspirados na vida real de mulheres latino-americanas que marcaram a história e a arte da região por enfrentar tabus e padrões sociais. As versões infantis da biografia da artista mexicana Frida Kahlo e da chilena Violeta Parra já estão no mercado argentino e, segundo a autora Nadia Fink, a próxima antiprincesa será Juana Azurduy, militar de origem indígena que lutou pela independência de territórios ocupados por tropas espanholas.

Os anti-heróis ficam para depois. “A história sempre se ocupou de dar a eles (os homens) um lugar protagonista, por isso, nessa coleção, será a vez deles esperarem um pouco”, disse a escritora por email ao comKids. Confira a entrevista de Nadia Fink sobre a coleção Antiprincesas.

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Imagem do livro “Violeta Parra”, da Coleção Antiprincesas, extraída de startyourbag.com

Comkids – Como surgiu a ideia do projeto? Por alguma experiência própria?
Nadia Fink – Queríamos trabalhar com crianças há muito tempo, talvez porque nós mesmos encontramos para nossos filhos e filhas – que já são grandes – pouco material que pudesse “competir” com esses contos tradicionais que os avôs e avós deles davam de presente. Também porque nós queríamos contar a eles essas histórias que nos fascinaram quando fomos pesquisar. E todas essas ideias se materializaram quando descobrimos os desenhos (e a arte) do ilustrador Pitu Sáa: era a possibilidade dessas imagens e palavras ganharem uma correlação perfeita na ilustração.

Como os personagens foram escolhidos?
Eles foram escolhidos por isso. Havíamos pesquisado bastante sobre Frida e Violeta e nos encantaram as suas histórias. Logo foram se somando outros nomes. O elo comum é que são mulheres que romperam os modelos de sua época, que se opõem à quietude das princesas de contos de fadas para sair em busca de seu destino – muitas vezes é uma luta contra a sociedade, ou família ou esposos – que constroem ideais e futuros com outras e outros de maneira coletiva.
 
A história de Frida fala da luta por igualdade de gênero, da vida amorosa da artista, do embate cultural… Qual é a importância de representar conflitos reais na narrativa para crianças e adolescentes?
Acreditamos que a fantasia é muito importante no mundo da infância, por isso, nas histórias reais que contamos, nos esforçamos para que a magia também esteja presente. Pensamos que essas histórias reais podem estar mais próximas das meninas de hoje, tão influenciadas por essas vidas que chegam de longe, de uma Europa fria e distante da cultura latino-americana. Também nessas histórias, a felicidade é um objetivo a ser alcançado – e chega ao final do conto, mas se supõe que será “para sempre”. Nessas histórias que criamos, a felicidade existe como a tristeza, como o mal, e como momentos da cotidianidade: Frida cantando em casa, Violeta chegando com uma pata de porco às 4 da madrugada para festejar. Por outro lado, a diversidade sexual é algo que nos parece que está muito mais presente na vida de nossos meninos e meninas e eles são muito menos estruturados que os adultos nisso.
 
Como promover a representação da diversidade da América Latina no conteúdo criado para crianças e adolescentes?
É nosso continente, nossa cultura. Na Argentina comemos nozes e torrões em pleno janeiro porque esse é o costume dos países frios – na verdade, Papai Noel morre de calor naquele traje, o nosso deveria andar com roupas mais leves! Recebemos lendas distantes e muitas vezes não contemplamos as lendas de nossos próprios povos nativos, como o nascimento do rios Bermejo e Pilcomayo, a flor do Irupé, etc… Esta é a nossa tentativa de promover a diversidade que faz a cultura de nossa América tão rica. Esperamos que muitas outras tentativas venham a se somar com essa.
 
Serão sempre histórias de mulheres latino-americanas ou vocês pensam em escrever também sobre homens? Quais serão os outros personagens da coleção?
Por ora, continuaremos com as antiprincesas… A próxima é Juana Azurduy. É sobre ela que estamos trabalhando. Muitos nomes foram sugeridos, por isso ainda veremos qual será a quarta personagem. No que diz respeito aos homens, eles terão sua vez. A história sempre se ocupou de dar a eles um lugar protagonista, por isso, nessa coleção, será a vez deles esperarem um pouco.

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Imagem do livro “Frida Kahlo”, da Coleção Antiprincesas, extraída de startyourbag.com
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Livro Violeta Parra, editora Chirimbote

Imagem do destaque: Frida dormindo, retirado de Revista Sudestada

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