Senha verde: um mosaico latino-americano
A partida
Desde o seu começo, Senha Verde (“Contraseña Verde” em espanhol) vem sendo uma caixinha de surpresas. Tudo começou quando o Goethe-Institut Buenos Aires convocou a mim e a Beth Carmona para desenvolver um projeto de coprodução de certo modo inspirado na bem-sucedida experiência asiática I got it.
Após várias reuniões e contatos com especialistas na área, chegamos à conclusão de que a melhor abordagem seria levar em conta o contexto latino-americano em que o projeto surgia.
Se quiséssemos desenvolver mais a produção de televisão para crianças, deveríamos trabalhar para aprofundar a busca de uma identidade regional e oferecer oportunidades para consolidar uma forma diferente de coproduzir.

A nova lei de Serviços Audiovisuais na Argentina (2009) é uma parte do contexto que não podíamos ignorar. Ela exige que os meios de comunicação dediquem parte de sua produção e espaço aéreo a conteúdos locais específicos para crianças e a criação de um canal público exclusivo para crianças. Também a evolução do Pacto de Televisão de Qualidade na Colômbia, junto às novas oportunidades de fomento do Ministério da Cultura e, no Uruguai, o prosseguimento do trabalho do Divercine premiando e refletindo sobre a produção para crianças. Em Cuba, o sólido caminho recorrido pela red UNIAL; a continuidade do Festival Prix Jeunesse Iberoamericano em São Paulo no marco do comKids e, claro, a influência da famosa Maleta Prix Jeunesse, que segue viajando por toda a região inspirando a produtores e programadores. Além disso, o generoso aporte de importantes profissionais como Maya Goetz, Jan-Willem Bult e Annick Hillger, apaixonados por nossa cultura, sempre perto para compartilhar abertamente sua vasta experiência.
Como conseqüência de tudo isso, houve na região grandes avanços em um tempo relativamente curto para fazer crescer o setor e torná-lo competitivo em um nível internacional.
Clique aqui para ver o episódio de “Estefanía: promessas ao vento”
A equipe
Tendo isso em mente e contando com a gestão e o compromisso permanente de Inge Stache – Coordenadora Institucional do Senha Verde – os canais pertencentes a 5 países que consideramos chave para o desafio foram convocados: TV Ciudad do Uruguai, TV Brasil, Señalcolombia, ValeTV da Venezuela e Pakapaka da Argentina. Eles foram convidados a Buenos Aires pelo Goethe-Institut para vários e extensos dias de trabalho. Oficinas com profissionais especialistas na área (tanto do exterior como locais) foram oferecidas, e cada participante pôde dar a conhecer ao grupo as condições cotidianas de seu trabalho e a dinâmica de seus próprios canais. Este tipo de reunião, de mútuo conhecimento, com a finalidade de formar um verdadeiro grupo de trabalho entre diferentes canais e produtores, não tem precedentes na região. Foi realmente construtivo oferecer condições para o desenvolvimento de um formato comum que fosse conveniente e possível para todos.
A série
A base da que partimos tinha dois eixos pré-determinados: a série teria que estar centrada na ecologia e se dirigir, é claro, às crianças. A partir desses pontos fomos desenhando as características que terminaram definindo um formato curto e muito flexível para ser programado: não ficção, com garotos e garotas entre 8 e 12 anos que fossem capazes de realizar e mostrar ações concretas para o cuidado do planeta, estando no centro das histórias. Cada canal deveria entregar entre 2 e 4 episódios e receber, em troca, a série inteira. Tendo isso acordado, cada um voltou ao seu país e começou a produzir.

À distância, Beth e eu como produtoras íamos guiando o trabalho para cuidar da coerência do conjunto. Trabalhamos a abertura, os créditos e a música que identificam o projeto. Este último aspecto também financiado pelo projeto e oferecido aos canais já pronto para sua aplicação, do mesmo modo que as viagens que viemos fazendo, desde a coordenação, a cada uma das produções, em diferentes etapas do processo, para compreender melhor o contexto de cada país.
Muito tempo foi destinado à investigação até encontrarmos os protagonistas mais adequados. Cada qual utilizou seu método – experiência que pôde ser compartilhada com o grupo quando o Goethe-Institut voltou a convidar e a financiar o encontro de todos em São Paulo, Brasil, no marco do Festival comKids Prix Jeunesse Iberoamericano 2011. Os casos foram apresentados. Avançou-se nos gráficos e se discutiram questões técnicas a respeito do tráfico dos episódios. Pela segunda vez, o Senha Verde ofereceu a todo o grupo oficinas de formação com uma “faixa bônus”: a possibilidade de todos seus produtores participarem do Festival, conectando-se com materiais audiovisuais hispano-americanos.
A partir de então o trabalho continuaria por alguns meses, por meio de reuniões à distancia. Em paralelo, avançaríamos na elaboração de uma página web própria.
A série pôde vencer os obstáculos que foram aparecendo, se adaptando a diferentes circunstâncias, modos de trabalho, ritmos de realização e, assim, somar o melhor da personalidade de cada um dos participantes, produtores e crianças protagonistas, até a exibição, estreada em todos os países quase simultaneamente.
Continuará…
Decidimos embarcar na aventura da direção de uma segunda temporada, hoje em pleno processo de realização. Agora já somos sete os países envolvidos: México (através do Canal 22) e Chile (através da Novasur CNTV), se somaram aos já participantes a partir do terceiro encontro grupal. Novamente, a sede foi Buenos Aires. Mais oficinas e mais espaço para compartilhar o que tinha sido aprendido na primeira temporada, a produção e a estréia em cada país e para vermos de maneira crítica os resultados atingidos, aproveitando os aprendizados que cada um pôde aportar a esta segunda oportunidade.
O mais bonito de Senha Verde é que ela mostra, de modo alegre, que é possível trabalharmos juntos, mesmo em um diálogo entre países muito diferentes. E que, quando isso se alcança, nos beneficiamos todos. Além disso, dá voz a essas pequenas grandes histórias que nos aproximam dos meninos e meninas em pequenos episódios de vidas de verdade, com crianças que alcançam grandes coisas: desde mobilizar a um governo para que comece a limpar uma zona de rio muito contaminada na Argentina, até construir uma panela “bruxa” que economiza energia ao cozinhar no Uruguai. Desde reflorestar um parque devastado na Colômbia, até salvar tartarugas na Venezuela ou reivindicar os sons da natureza frente ao caos da cidade no Brasil.
Um mosaico de paisagens latino-americanas que tem sua própria página web e uma energia contagiante para se comprometer com nosso planeta. Tudo isso graças a um grupo de crianças que não ficam caladas diante dos problemas.