Crianças por trás das câmeras

Crianças e adolescentes que produzem audiovisual em escolas do ensino fundamental de São Paulo foram ao cinema para assistir na telona suas próprias criações no Festival de Filmes Escolares – Criando Filmes, uma iniciativa do Projeto Escola no Cinema para a formação de plateia, a compreensão do fazer cinematográfico e o estímulo à criação.

O festival foi organizado por Patricia Durães, criadora dos projetos Escola no Cinema, Clube do Professor na rede Espaço Itaú de cinemas e da Ciranda de Filmes. Patricia é pioneira no trabalho de fruição, formação de público e análise crítica de filmes entre jovens e essa é mais uma de suas iniciativas.

O encontro para a exibição das peças (27/4) reuniu na plateia as crianças criadoras, representantes de uma geração mais familiarizada com a criação de filmes, com a facilidade dos aplicativos de celular e editores de vídeo caseiros. O resultado foi uma sessão de 19 filmes, entre ficções, documentários e animações apresentados no festival com curadoria do professor de cinema Stéphane Bautheney. Duas das produções foram realizadas nas Oficinas Tela Brasil, o projeto itinerante de vídeo que oferece conteúdo e prática de realização cinematográfica para jovens de comunidades Brasil afora.

Após as exibições, as equipes criativas tiveram a oportunidade de comentar os filmes com o crítico e professor de cinema Sérgio Rizzo, doutor em meios e processos audiovisuais.

O olhar das crianças

O Festival de Filmes Escolares tem o mote da formação de plateia crítica e do aumento de repertório, vertentes do Clube do Professor e do Projeto Escola no Cinema. Estimular as crianças a assumir as câmeras também é a oportunidade de colocá-las diante da reflexão sobre a linguagem narrativa do cinema e de escolhas quanto a temáticas e perspectivas.

Patricia Durães fala a seguir da importância do fazer cinematográfico entre as crianças.

– Quais foram as principais motivações do Festival de Filmes Escolares – Criando Filmes?

O Espaço Itaú de Cinema da Rua Augusta já nasceu com uma proposta de formação de plateia e desde o início de nosso trabalho temos um diálogo com as escolas. O projeto Escola no Cinema e, em 2001, o Clube do Professor, fazem um trabalho de exibição voltado para ampliação de repertório e de fazer da ida ao cinema um ato cotidiano.

Agora com o mundo cada vez mais audiovisual, com o avanço da tecnologia e o aparecimento de diversas plataformas, os alunos começam a experimentar o fazer cinematográfico. Assim, surgiu a necessidade de conhecer o que eles estão criando dentro da escola, ouvir como se dá esse processo de sair de espectador para também ser o criador de imagens.

Outro motivo, não menos importante, é abrir o espaço da sala de cinema para essas produções, os alunos terem a oportunidade de ver suas criações na tela grande do cinema. Tenho certeza que será uma experiência única para eles.

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O crítico e professor de cinema Sérgio Rizo participa do Festival comentando os filmes exibidos. Foto: Du Amorim.
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Professora e alunos da EMEF Dr José Dias da Silveira presentes no Festival de Filmes Escolares, no Espaço Itaú de Cinema. Foto: Du Amorim.

– O festival vai exibir filmes produzidos por alunos de escolas municipais do ensino fundamental de São Paulo. Como foi feita essa seleção e qual é o perfil dos criadores?

Esse é um projeto experimental, fizemos com os recursos que tínhamos. Então, optamos em trabalhar com um só segmento para esse primeiro momento. A curadoria foi feita pelo professor de cinema Stéphane Bautheney, com muita experiência com os alunos desta faixa etária e meu parceiro nesse Festival.

– A ideia é torná-lo anual? Já há planos sobre essa expansão?

A ideia é, a partir do material gerado esse ano, organizar um projeto e tentar torná-lo anual, expandindo para os outros segmentos do ensino básico. Vamos convidar as escolas da rede pública (municipal e estadual) e as escolas particulares, abrangendo também as ONG e oficinas de produção audiovisual para que haja diversidade e muita troca entre os estudantes, os educadores e as instituições.

– Os filmes do festival têm gêneros variados: ficção, documentário e animação. E as temáticas?

Os temas são bem variados mas as questões da vida escolar e as preocupações com o meio ambiente, como a água e a coleta seletiva do lixo, são as mais abordadas.

 – O festival faz parte do projeto Escola no Cinema. Como o estímulo à produção cinematográfica pode contribuir para a formação crítica e cultural das crianças?

Para a compreensão da linguagem cinematográfica, a fruição é fundamental. É preciso ver muitos filmes, de gêneros, origens e propostas estéticas bem diversos para compor um amplo repertório. O projeto Escola no Cinema estimula e oferece essa proposta desde a sua criação. Mas para um entendimento mais profundo, para ter a capacidade de fazer uma análise crítica, é muito importante entender mais todo o processo de feitura de um filme, e isso vem com o fazer cinematográfico. A nossa contribuição para estimular a produção cinematográfica na escola é dar a oportunidade de exibição na sala de cinema, de ver seus filmes serem tratados como uma obra cinematográfica e ter a possibilidade de trocar experiências com outras escolas, com outras instituições que também trabalham com a produção para crianças e jovens e com profissionais de cinema que sempre serão convidados para analisar os filmes e conversar com os pequenos cineastas.

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Participação da plateia no debate. Foto: Du Amorim.

Imagem do destaque: Alunos com o crítico e professor de cinema Sérgio Rizzo que comentou os filmes dos alunos após a exibição. Foto: Du Amorim.

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