Diretoras colombianas se dedicam à diversidade

As irmãs Marcela e Maritza Rincón González, criadoras da série de animação colombiana Guilhermina e Candelário que estreou na TV Brasil, falaram ao comKids por email sobre a produção. “Ter um programa de televisão destinado à primeira infância e que tem como protagonistas crianças negras é algo realmente valioso para a nossa sociedade. Esse era o nosso grande sonho quando começamos este projeto. E nos alegra ver como ele consegue transcender fronteiras para que muitas crianças tenham a possibilidade de ver outro tipo de história, de contexto, para se sentirem protagonistas nos programas da TV”, afirma Maritza.

comkids – Por que vocês escolheram a região do Pacífico colombiano como cenário da série?

Maritza Rincón González – O Pacífico colombiano é uma região fascinante, não só por sua exuberância natural, mas também pelo calor e pela alegria do seu povo, a grande maioria de ascendência africana. No entanto, esta parte do nosso país vive um pouco esquecida, não tem uma presença forte no imaginário dos colombianos, nem política ou socialmente, e por isso mesmo queríamos visibilizá-la através de sua grande riqueza natural.

A infância de vocês ou alguma memória em comum aparece no universo de Guilhermina e Candelário?

O Pacífico marcou a nossa experiência de vida. Tivemos a oportunidade de crescer visitando suas praias, ouvindo as histórias de avós pescadores e compartilhando a alegria das crianças desta região. O nosso pai, que é professor, criou uma escola em uma dessas praias, onde passamos longas temporadas e tivemos contato direto com a comunidade. Assim, mais tarde, quando escolhemos nossa profissão, não foi muito difícil querer contar algumas dessas histórias e falar sobre esses personagens que nos haviam encantado. Com Guilhermina e Candelário compartilhamos muitas coisas, experiências, aprendizagens. Até “Yupiyaka”, o ursinho de pelúcia de Guilhermina, é uma réplica do nosso urso da infância.

Qual é o potencial de exportação de uma série que fala sobre uma região do Pacífico colombiano, mas também lida com temas universais da infância?

Guilhermina e Candelário é uma série inspirada no Pacífico colombiano e conta as histórias de duas crianças que crescem no ambiente natural de uma praia, sob os cuidados e a proteção de seus avós. Nessa medida, as suas histórias são universais e poderiam acontecer na Colômbia ou em qualquer lugar do mundo. No entanto, o grande atrativo do projeto é conseguir transcender fronteiras no momento em que a série recria imaginários, crenças e a cultura em geral da população afrodescendente, de tal modo que supera os limites de fronteira de um país porque está apoiado em algo que é muito mais forte e de raiz, o elemento cultural, transversal à criação das nações. Seu contexto e sua forma acabam sendo comuns a muitos países da América Latina.

Na sua avaliação, como as crianças brasileiras vão se identificar com o universo de Guilhermina e Candelário?

Nossos países são irmãos, compartilhamos uma grande semelhança cultural, o gosto pela música e a alegria do nosso povo. Tudo isso se reflete na série e por isso acreditamos que haverá uma grande conexão. Da mesma forma as temáticas que abordam os capítulos de Guilhermina e Candelário têm um grande potencial no Brasil, pois tocam o sentimento de qualquer criança por falar da “primeira vez”. Situações como aprender a andar de bicicleta, cuidar de um animal doméstico, aprender a fabricar pipas ou fazer novos amigos. São experiências que as crianças têm em qualquer lugar do mundo. Por outro lado, a série tem um grande interesse em desenvolver valores como o comprometimento, o respeito, a perseverança e a criatividade, aspectos que contribuem para o desenvolvimento da infância de qualquer país, e já começamos a ver, pelo menos a partir das redes sociais, que tem sido amplamente aceita pelo público. Pais, professores e jovens têm escrito nas nossas páginas para agradecer pelo programa que tem a dupla de crianças afrodescendentes como protagonistas.

Ver protagonistas de origem negra em produções infantis não é nada comum na televisão brasileira. A representação da diversidade étnica e cultural é importante na TV infantil?

Ter um programa de televisão destinado à primeira infância e que tem como protagonistas crianças negras é algo realmente valioso para a nossa sociedade. Esse era o nosso grande sonho quando começamos este projeto. E nos alegra ver como ele consegue transcender fronteiras para que muitas crianças tenham a possibilidade de ver outro tipo de história, de contexto, para se sentirem protagonistas nos programas da TV. Isso certamente vai gerar um sentimento de pertencimento e reforçará aspectos da identidade, interculturalidade e respeito às diferenças, o que, ao nosso ver, são muito importantes para a construção da paz em nossos países.

Existem planos para uma nova temporada?

Estamos fazendo grandes esforços para produzir uma nova temporada, mas em nosso país os recursos para televisão infantil são limitados. Adoraríamos fazer uma coprodução com o Brasil, por isso esperamos que este seja o início de novas oportunidades de crescimento e expansão para a série. Guilhermina e Candelário é um universo narrativo que queremos fortalecer em várias janelas além da televisão. Estamos interessados em nos aventurar no mundo dos aplicativos e permitir que o nosso público viva novas experiências com o nosso conteúdo.

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