Faces: Como sobrevivi ao bullying

Um projeto internacional da emissora pública japonesa NHK aposta no compartilhamento de histórias de superação do bullying para inspirar jovens de todo o mundo no combate a esse problema social que impacta vítimas em várias culturas.

O website Faces reúne vídeos de 2 minutos com histórias de bullying nos mais variados ambientes, com perfis diversos de vítimas, contados em vários idiomas – inclusive em português. O canal brasileiro Futura é um dos colaboradores do projeto Faces.

Em comum, os relatos revelam os efeitos devastadores do bullying sobre as vidas dos jovens. As formas de superação também são diversas e podem inspirar quem sofre com o mesmo problema. A certeza que fica é que eles definitivamente não estão sozinhos.

Faces, projeto internacional da emissora japonesa NHK

Rostos

A ideia é dar rosto e nome social ao problema que, silenciosamente, afeta tantos jovens pelo mundo. Os depoimentos foram colhidos na Europa, Ásia, América do Sul, entre outras regiões. O resultado está disponibilizado no website que foi selecionado como finalista na categoria Digital Media do prêmio de mídia educativa Japan Prize 2019.

Quem contou mais do projeto para o comKids foi Masaru Ishizu, produtor-chefe do Faces, e que esteve no Brasil em agosto para participar do Festival comKids Prix Jeunesse Iberoamericano 2019. Masaru Ishizu participou da programação do evento na Conversa comKids – Pensar o mundo com as crianças e apoiá-las na construção de seus próprios mundos. Com a colaboração do tradutor Carlos Fujinaga, Masaru Ishizu também respondeu ao nosso site sobre a origem e os desafios de Faces. 

 

– Poderia nos contar sobre a ideia para a criação do “Faces”?

Masaru Ishizu – Desde 2013, nós temos produzido programas voltados aos jovens do Japão que sofrem com bullying. Em meio à realização de diversas reportagens, conscientizamo-nos de que o bullying tem se tornado um grande problema no mundo todo. Assim passamos a pensar se nós, como rede pública, não poderíamos criar um incentivo para combater o bullying no mundo.

Desde 2015, acumulamos discussões com pessoas de Associações de radiodifusão e emissoras de diversas partes do mundo. Com a ajuda do conhecimento de muitas pessoas, levantamos o projeto FACES. Em 2017 concluímos o formato conceitual, e o projeto se iniciou. Em dois anos de projeto, temos 12 países participantes (incluindo o Japão), e reunimos 53 conteúdos. 

 

Masaru Ishizu (Japão), produtor do Faces. Foto: Danila Bustamante

 

– Como esse projeto vem sendo construído? 

Masaru Ishizu – O “Faces” é apoiado por emissoras do mundo todo que, como nós, desejam combater o bullying. As emissoras participantes produzem, com recursos próprios, pelo menos 2 conteúdos com 2 minutos de duração. Assim, terão o direito de exibir livremente todo o conteúdo “Faces” produzido pelas emissoras do mundo todo (53 vídeos reunidos até o momento), seja na grade televisiva de seu país, seja na internet.

Temos um detalhado livro de regras e um guia de produção do conteúdo. A emissora deve seguir este guia para encontrar um(a) protagonista. É importante que seja “alguém que superou o bullying e atualmente está na ativa, vivendo sua vida sendo ela mesma”. No “Faces”, entendemos que é fundamental emitir mensagens tais como: “você não está sozinho”, “o bullying pode ser superado”, “após superar o bullying, um futuro brilhante te espera”, para atingir as pessoas que estão sofrendo bullying neste momento.

Portanto, naturalmente é necessário falar sobre a época em que se sofria o bullying, mas entendemos que o mais importante é que eles contem o que veio depois: “qual foi o gatilho para superar o bullying”, “como superou o bullying”, “como é o momento atual alcançado hoje após a superação do bullying”. 

Após a escolha do(a) protagonista, se inicia a produção. As emissoras têm produzido conteúdos maravilhosos, repletos de emoção. Gostaria que todos vissem e participassem. Todos os conteúdos do “Faces” podem ser visualizados em nosso site.  

 

– Há depoimentos de vários tipos de bullying: de racismo, questões de gênero, etc. E há também os dois lados: “Faces” têm depoimento de jovens que praticaram o bullying, não só das vítimas. Por quê?

Masaru Ishizu – No bullying existem três tipos de personagens: “aquele que sofre o bullying”, “aquele que comete o bullying”, e “aquele que simplesmente observa o bullying acontecer”. Gostaríamos de atingir todos estes personagens. Para levar nossas mensagens a todas estas pessoas são necessários diversos relatos de diversos protagonistas.

Queremos que as emissoras participantes produzam conteúdos ricos em diversidade. Aquele que comete o bullying não é um vitorioso. Eles também podem acabar se transformando em aquele que sofre o bullying a qualquer momento, por um pequeno detalhe. Não existe ninguém realmente feliz quando a pessoa faz parte de uma estrutura de bullying. O “Faces” procura transmitir isso por meio dos relatos apresentados por protagonistas diversos.

Existem diferentes razões para que o bullying aconteça, conforme o país. Porém, há pontos em comum, como o sentimento de dor, sofrimento e solidão quando se está sofrendo bullying, e a esperança de que é possível superar o bullying quando se tem alguma oportunidade. Nós acreditamos que as mensagens do “Faces” podem atingir as pessoas passando as fronteiras de países, etnias ou raças.

 

– Histórias reais e diversas, de várias partes do mundo, podem fazer a vítima de bullying se sentir mais incluída e empoderada para superar sua própria realidade. Vocês já têm exemplos do impacto do projeto nesse sentido?

Masaru Ishizu – Recebemos muitas cartas e emails de jovens que querem ser protagonistas do “Faces”. São pessoas que receberam nossas mensagens e tomaram coragem para se levantar. Temos também professores que utilizam o conteúdo do “Faces” nas aulas do primário, ginásio ou colegial no Japão. Vamos trabalhar para que o “Faces” seja utilizado cada vez mais dentro das escolas.

Atualmente as crianças dominam o uso de diversas mídias, como o smartphone e as redes sociais. Como consequência, o bullying tem se tornado cada vez mais difícil de ser detectado. O que nós, enquanto redes públicas, podemos fazer para combater estas novas formas de bullying? É algo que precisamos buscar seriamente. Contamos com a ajuda de vocês.

Giovana Botti

Redatora do site

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