Festival 2015: Narrativas para crianças

Histórias para crianças e adolescentes, diversidade, padrões e preconceitos são algumas das questões que estarão na Conversa comKids “Narrativas e Representações”, dia 20 de agosto, às 20h30, no Sesc Consolação, em São Paulo.

As Conversas comkids são os espaços de debate do Festival comKids – Prix Jeunesse Iberoamericano, que acontece de 17 a 21 de agosto, na capital paulista. Toda a programação e a ficha de inscrição gratuita, você acessa aqui. Para fazer parte da Conversa comKids, basta retirar a senha distribuída meia hora antes do evento.

Uma seleção de roteiristas do Brasil e do exterior, convidados pelo comKids, vai conduzir as reflexões da conversa “Narrativas e Representações”. Para conhecer a lista dos profissionais, clique aqui. Entre eles, o autor, roteirista e diretor argentino Nicolás Zalcman, que antecipou por email algumas questões sobre infâncias, histórias e América Latina.

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A série “Los mundos de Uli”, dirigida por Juan José Campanella, foi escrita por Nicolás Zalcman e chegou a ser finalista do comKids – Prix Jeunesse Iberoamericano 2013.

comKids – Qual é a importância de representar as realidades locais, de infâncias, personagens e conflitos “reais” na narrativa para crianças e adolescentes?
Nicolás Zalcman – A importância, na minha opinião, está em tentar fazer com que o espectador se sinta mais incluído, que se aproprie da história e do personagem, que crie empatia através de vários laços. Hoje em dia, a maioria das produções infantis tenta ser “genérica”, para que ninguém possa distinguir onde está acontecendo a história; se na Argentina, no Brasil, na França ou na Índia. Porque supostamente isso facilita a venda para qualquer país do mundo e aí está o negócio.

É uma lógica de mercado, e tudo bem que ela exista. Mas é necessário que, em paralelo, também exista uma lógica para contar histórias que não estejam regidas apenas pelo objetivo único de vender. Devemos recordar que contar histórias é, antes de tudo, uma maneira essencial de conectar-se com o outro. E que esse outro tem uma identidade que lhe atribui, entre outras coisas, a idade, o lugar onde vive e suas particularidades culturais. Querer suprimir as diferenças para vender mais é contar histórias para um ente amorfo, que é mais um Frankestein do que uma criança. Veja, não estou dizendo que seja um mal querer pensar um produto para vendê-lo, só acho necessário considerar os dois lados e buscar um equilíbrio: ter um produto comercializável ao mesmo tempo em que se leve em conta as particularidades de quem o vê. Ou estaremos buscando espectadores que simplesmente consomem, e gosto de pensar mais em espectadores ativos, estabelecer, através das histórias, uma forma de contato.

comKids – Como promover a representação da diversidade da América Latina no conteúdo criado para crianças e adolescentes? Como estamos respondendo a esse desafio?
Eu acho que nós temos mentes ainda muito colonizadas e estamos lutando todos os dias contra isso. Nós crescemos assistindo histórias feitas fora da América Latina e, na hora de pensar sobre histórias, às vezes inconscientemente repetimos padrões que não são da nossa realidade. Às vezes quando escrevo em um roteiro: “O gato mexe no lixo”, eu me pego imaginando aquelas latas de lixo redondas, de metal, típicas da série “Tom e Jerry”, bem norte-americanas… é uma loucura! Na minha vida, no mundo real, eu nunca vi uma dessas latas de lixo, mas eu vi isso tantas vezes na televisão quando eu era criança, que ficou comigo.

Este é um exemplo muito superficial, mas considero que estamos muito contaminados por esses conceitos. Eu sinto que a tarefa é a de descolonizar as nossas histórias, enquanto vemos, observamos e pensamos quais são os conflitos reais das crianças latino-americanas. Eu sempre acreditei que histórias, como um fio de Ariadne, têm a função de dar às crianças uma ferramenta para eles resolvam seus problemas. Não podemos escrever histórias para qualquer criança: nossa tarefa é contar histórias que reflitam os problemas das meninas e das meninos latino-americanos, para que a tela lhes sirva de espelho de sua realidade. Acho que estamos nesta árdua tarefa e que os frutos que colhemos nos dão forças para seguir trabalhando nessa direção.

Conversa comKids “Narrativas e Representações”
20 de agosto
das 20h30 às 22h30 (Senhas distribuídas meia hora antes do evento)
Sesc Consolação – São Paulo

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