Games for Change no Brasil

O Festival Games for Change (G4C), que promove jogos digitais de responsabilidade social, tem uma versão latino-americana desde 2011. No Brasil, o vetor das atividades do G4C é o grupo de pesquisa Cidade do Conhecimento (USP), coordenado pelo professor Gilson Schwartz, da Escola de Comunicações e Artes. Schwartz respondeu a perguntas do comKids sobre o tema por email. O professor chama atenção para a importância do game como “objeto cultural, interdisciplinar e transformador” e defende que as empresas brasileiras deveriam investir nos chamados jogos “sérios”, o foco do G4C.

comKids – Como estão as atividades do G4C no Brasil? E qual o envolvimento do projeto Cidade do Conhecimento, desenvolvido na USP?

Schwartz – Após três anos e edições consecutivas do Festival Games for Change, nesse ano o movimento dá um salto de qualidade e participa da construção de um novo programa de pós-graduação com foco em game design, o Programa JEDI – Jogos e Entretenimento Digital, uma parceria com a Universidade de Taubaté, onde pelo quinto ano consecutivo (e há três com apoio da Games for Change) realizamos o evento LIGAÇÃO – Literatura Infantojuvenil, Games e Artes em Ação, no Sítio do Picapau Amarelo. Passamos portanto de uma etapa de divulgação e promoção de games com foco em educação, cultura e transformação social para a criação de um novo programa de pós-graduação. A Cidade do Conhecimento, grupo que coordeno há 14 anos na USP, tem sido a âncora institucional dessas atividades pioneiras, mobilizando estudantes, professores e a própria administração da universidade para essa nova agenda que integra ensino, pesquisa e extensão com foco em games.

comKids – No ano passado o Brasil foi tema de um painel do Festival G4C em Nova York sobre o futuro do mercado de jogos eletrônicos. Como o senhor vê a expansão da indústria brasileira de criação e distribuição dos jogos de responsabilidade/impacto social?

Schwartz – Acabamos de concluir uma extensa pesquisa, encomendada pelo BNDES, sobre o futuro da indústria de games no Brasil. Os resultados estão disponíveis no site do Banco. ( Para maiores informações sobre a pesquisa, clique aqui.) A principal conclusão é a de que precisamos aperfeiçoar os cursos, a formação disponível no país, assim como dar maior ênfase à promoção de empresas e projetos com foco nos chamados jogos “sérios”, ou seja, exatamente o caminho preconizado pelo movimento Games for Change. Não faz sentido apoiar empresas brasileiras para disputar o mercado AAA de jogos de tiro, projetos que consomem milhões de dólares, uma indústria que já supera o cinema em faturamento nos países avançados. Mas faz todo o sentido a gente cuidar das nossas crianças, da saúde pública, do meio-ambiente e da cultura brasileira criando jogos com esses temas e prioridades. Isso nós é que temos a obrigação de fazer e, creio, em breve o BNDES e outras agências e órgãos de governo brasileiros acordarão para a importância do game como objeto cultural, interdisciplinar e transformador.

comKids – Escolas brasileiras já aplicam os jogos com cunho educativo? Os games já são reconhecidos no ambiente escolar como ferramenta poderosa de educação?

Schwartz – Sim, a presença é crescente, embora ainda predominem produtos simples, jogos de memória, mecânicas muito simples que em muitos casos não passam da automação do decoreba. Como a cultura do entretenimento mais presente no universo infantojuvenil são os games, crianças e adolescentes já chegam às escolas com esse viés. O importante é aproveitar de modo construtivo e criativo esse caldo de cultura derivado da indústria do entretenimento digital.

comKids – Este ano o Festival do G4C entrou para a programação do Festival de Cinema de Tribeca, em Nova York. É algo representantivo no reconhecimento dos games como mídia de inovação e de novas possibilidades de narrativas?

Schwartz – O movimento Games for Change é um “primo” do cinema de não-ficcção. Assim como um documentário trabalha criativamente o desafio de discutir uma realidade social, política ou cultural, o game também vai mobilizar ferramentas e design criativo para tratar de temas “sérios”. Os Festivais da G4C em Nova York sempre tiveram participação importante de documentaristas, de gente ligada ao Sundance, de produtores e diretores de museus e instituições de arte. A aproximação com o Tribeca consolida esse parentesco e favorece o cruzamento entre linguagens audiovisuais voltadas para a mobilização das consciências e a mudança de comportamentos do público.

Giovana Botti

Redatora do site

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