História do Brasil com crítica e bom humor
Uma produção de época brasileira para o público infantojuvenil, com limitações orçamentárias, só poderia dar certo com muita criatividade. Foi assim nos bastidores de Família Imperial, série do diretor Cao Hamburger, em coprodução da Primo Filmes, da Globo Filmes e do Canal Futura.
Família Imperial, atualmente também exibida pelos canais Disney Channel e Disney XD, fala de história do Brasil com o bom humor de uma viagem no tempo e o roteiro divertido e didático agradou a crítica especializada. A série foi a única produção brasileira vencedora na categoria 7 a 11 anos (ficção) do Festival ComKids Prix Jeunesse Iberoamericano, realizado em junho de 2013, em São Paulo.
Família Imperial – Teaser (Primo Filmes) from fstutz on Vimeo.
Outra grande sacada para a realização do projeto foi a abordagem lúdica. Em vez de perseguir a difícil verossimilhança do Brasil Império em locações variadas, Família Imperial usa o back projection para projetar imagens em background e criar a ilusão do ambiente de época.
“Incorporar o back projection ao cotidiano de gravação era um desafio grande, mas funcionou”, comemora o produtor da série, Matias Mariani. A técnica ocupa grande parte de Família Imperial, com seus efeitos e cenários virtuais em estúdio. Veja aqui um making of.
A história de duas adolescentes, de 14 anos, é o grande eixo da série. Lucrécia e Iara são interpretadas pela mesma atriz, a talentosa Daniela Piepszyk. São personagens de uma mesma família, com inquietações parecidas, insatisfações típicas da adolescência, mas com uma grande diferença: 200 anos as separam.
Lucrécia, do século XIX, encontra Iara, do século XXI, através do espelho de uma antiga penteadeira mágica e trocam de lugar. As duas, tão inconformadas com as regras dos seus próprios tempos, experimentam mundos diferentes e Iara acaba conhecendo a Família Imperial, em 1812.
O humor e os costumes
A viagem no tempo e a troca de papéis entre os personagens do passado e do presente renderam boas situações cômicas e muita análise crítica em Família Imperial. E nem só de marcos da História do Brasil vive a série. O cotidiano das pessoas comuns da época também é a matéria-prima do roteiro.
A série mostra, por exemplo, o tratamento dado no passado a escravos a serviço da Casa Grande e chama a atenção para a questão contemporânea das empregadas domésticas ainda tão comuns para famílias da classe média brasileira.
O choque cultural ainda coloca em conflito ético costumes e morais das duas épocas em temas próximos aos adolescentes, como a estética da moda, os relacionamentos amorosos, as liberdades individuais, o bullying e a família.
Para mostrar as diferenças entre os dois tempos, os roteiristas tiveram de mergulhar na história do Brasil com uma ajuda especial. A escritora e professora de Antropologia Lilia Schwarcz prestou uma consultoria importante ao resgatar episódios históricos marcantes do período, como a Independência do Brasil e a Proclamação da República, que foram explorados com irreverência pelos criadores da trama.
A produção ainda envolveu o trabalho de pesquisadores que garimparam diferentes acervos, como o do Instituto Moreira Salles e da Cinemateca Brasileira, para que a série mantivesse a liberdade na representação, mas ao mesmo tempo primasse pela autenticidade dos registros históricos.

Casting ou trupe
O diretor-geral de Família Imperial é Cao Hambuger, referência em programas infantojuvenis de qualidade como o Castelo Rá-Tim-Bum, criado para a TV Cultura. No cinema, ele já havia trabalhado com a jovem atriz Daniela Piepszyk ao dirigir O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias e repetiu a experiência bem-sucedida nesse projeto para TV.
Outra peça-chave do casting é o ator Caio Horowicz, que também faz papel duplo ao interpretar Alphonso, o irmão de Lucrécia da época imperial, e ainda Jonas, o irmão de Iara, dos tempos contemporâneos.
A ideia de um mesmo ator interpretar vários papéis se reproduz pelo restante do elenco, tal como antigas companhias de teatro e trupes de artistas versáteis.
A definição dos personagens e de seus intérpretes não foi nada aleatória. “A escolha dos papéis foi muito bem pensada, serve para estabelecer paralelos sutis e arquétipos do passado e do presente”, explica Matias Mariani. O pai dos protagonistas, por exemplo, é interpretado pelo mesmo ator (Luiz Machado) com todas as nuances do autoritarismo paterno do século XIX e a personalidade mais fluida do homem do século XXI.
Novo projeto infantojuvenil
Família Imperial foi lançada na TV Futura em 12 de outubro de 2012 depois de nove meses de produção (descontando o tempo de desenvolvimento e roteiros). A ideia inicial partiu da própria TV. Lúcia Araújo, gerente-geral do canal, queria uma série sobre príncipes e princesas e pediu o conceito para a Primo Filmes e Cao Hamburger.
Com um aporte do Bradesco, o valor total do orçamento total foi de R$ 3,74 milhões para 20 capítulos. Na TV Futura, que tem propósito educativo, foram exibidos capítulos especiais, mais didáticos, para explicar o contexto da série com entrevistas com historiadores e professores.
A primeira temporada foi comprada pela Disney. Por enquanto não há previsão para uma segunda fase da série, mas as possibilidades estão abertas. E a Primo Filmes e Cao Hamburger (Caos Produções) já estão em novo projeto infanto-juvenil. Desta vez, para a TV Cultura. “Que Monstro Te Mordeu?” terá 50 episódios, que devem ir ao ar no segundo semestre de 2014.