Crianças imigrantes em livro

A história de 12 crianças imigrantes e suas famílias como retrato de experiências da chegada ao Brasil e das vivências fora da terra natal virou livro infantil.

Para criar “Eu Estou Aqui”, a autora Maísa Zakzuk realizou as entrevistas em 13 meses de produção. Com já seis livros publicados, Maísa saiu a campo para encontrar experiências de imigração sob o ponto de vista das crianças.

“Eu estou aqui”, livro de Maísa Zakzuk

  “Para começar, a missão era encontrar o maior número de crianças de nacionalidades e religiões diferentes que estivessem no Brasil na condição de refugiados ou imigrantes. Apesar do grande número de estrangeiros no nosso país, não foi fácil encontrar famílias dispostas a colaborar. ‘Não, não estou legalizado’, ‘Não, eu não entendo português’, ‘Não, eu não posso faltar no trabalho’, ‘Não, minha filha tem medo de falar com estranhos’. Os ‘nãos’ se multiplicavam, mas não me fizeram desistir. Os ‘sims’ eram motivo de comemoração, mesmo sabendo que a jornada seria longa.”

A história da marroquina Ikram também está no livro “Eu estou aqui”. Foto de divulgação.

Maísa e a fotógrafa convidada para o projeto, Daiane da Mata, tiveram que se adaptar à diversidade cultural das 12 famílias de diferentes partes do mundo. Como no encontro com Cristina, originária do Congo, e que por enquanto só fala lingala, o idioma banto congolês.

Cristina veio do Congo para o Brasil. Foto de Divulgação.

Em outro caso, Maísa teve que arriscar o árabe para a escuta da história da marroquina Ikram. Mas a barreira da língua não foi obstáculo para a troca de experiências, enriquecida pelo ato presencial do encontro com as crianças. Maísa lembra do aroma de m’jádra – arroz com lentilha – na casa de Mariam, a felicidade do haitiano Sebastien em falar do seu time do coração e o cafezinho que tomou com Rodrigo, recém-chegado da Bolívia.

Rodrigo, recém-chegado da Bolívia. Foto de divulgação.

Para abordar a complexidade do tema imigração, a história e a cultura dos países originários das crianças entrevistadas, a autora buscou a contribuição de especialistas em Direito, em História e em Religião. “Leis e conceitos sobre refúgio e imigração e dados sobre deslocamento foram minuciosamente estudados para facilitar a compreensão dos leitores.”

Alcides, do Paraguai. Foto de divulgação.

Para Maísa, todo o processo do livro foi um grande aprendizado.

“Alcides me ensinou que se fala Guarani no Paraguai. Ali, pai da palestina Mariam, me explicou que não basta nascer na Síria para ser sírio. Aí eu me dei conta de que as histórias tinham pontos em comum: a mudança forçada e a não escolha do país para qual a criança irá. Se ela for bem recebida, pode ser menos doloroso. Basta pensar como você gostaria de ser recebido na casa de alguém.”

A família da palestina Marian. Foto de divulgação.

Eu estou aqui
Autora: Maísa Zakzuk
Editora Panda Books, 2019

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