Imagens da infância refugiada

Um fotógrafo egípcio que acredita no poder da arte em documentar a história e as culturas das nações. É assim que Fadi Taher, também produtor de documentários, se resume em seu website, que tem registros de imagens emblemáticas e trabalhos tocantes realizados em vários países do mundo. Em muitas delas, o que chama atenção é a captação de retratos de crianças e jovens, documentados nas ruas em estilo de forma naturalista e realista. Um olhar sobre a luz natural de rostos, ambientes e culturas diversas.

Fadi Taher nasceu no Cairo e desde 2014 se dedica a fotografias de rua e retratos, com trabalho concomitante de ativista global. Uma dessas produções, “Stories from the camp”, foi realizada em um campo de refugiados sírios e as histórias visuais viraram exposição fotográfica no Festival Prix Jeunesse 2018, que reuniu produções da TV infantil mundial este ano em Munique, Alemanha.

Fadi Taher. Divulgação.

Taher participou em 2017, no Líbano, do Storytelling Club oferecido a crianças refugiadas sírias, uma iniciativa da Fundação Prix Jeunesse Internacional, em colaboração com o IZI – International Central Institute for Youth and Educational Television – e a UNICEF.

A experiência no Líbano, com crianças que lidam diariamente com o contexto de guerra e violência, teve justamente o tom do festival realizado em Munique, cujo tema deste ano foi “Strong stories for strong children: resilience and storytelling”, sobre o poder das grandes histórias na promoção da resiliência e do empoderamento infantojuvenil.

Depois do Storytelling Club, no Líbano, Fadi Taher foi para acampamentos ouvir e fotografar histórias e condições de vida no Vale do Becaa, na região de fronteira entre o Líbano e a Síria. O resultado é uma série de fotos primorosas e de grande sensibilidade na interface com a infância.

Taher aposta na arte como instrumento de promoção do desenvolvimento humano e as imagens que ele registra na documentação das vivências infantis pelo mundo – em grande parte em regiões de vulnerabilidade – revelam muito dessa motivação profissional e de vida; a de captar pelas lentes a espontaneidade das ruas e de lugares onde muitas vezes a infância é negada. Nessa jornada, já passou pelo Nepal, pela Bolívia, Líbano, Jordânia, Turquia, Suiça, França, Malta, Holanda, Alemanha, Estados Unidos e Itália.

O fotógrafo egípcio contou ao comKids sobre a experiência do projeto “Stories from the camp”.

– Como e por que você começou a fotografar crianças?
Comecei a focar na fotografia em 2012 e em 2014 descobri que minha paixão é pela fotografia de rua e retratos. Acredito que para conhecer as vibrações de qualquer lugar – cidades ou países – a gente deve se conectar com os locais. Inclusive com as crianças, que são mais espontâneas e naturais, e eu me encontrei ao me conectar com elas, na crença nas crianças. Elas são o nosso bom futuro e precisamos nos conectar, trabalhar com elas, para que isso se realize.

Fadi Taher, divulgação.

– Como é feita a abordagem quando você fotografa crianças? É um processo espontâneo?

Sempre peço permissão a eles e continuo em diálogo com as crianças para que se sintam confortáveis e à vontade antes de tirar fotos, porque gosto de captar a espontaneidade e expressões naturais. Não gosto quando eles posam na frente da câmera.

– Você poderia nos contar sobre sua experiência no projeto “Stories from the camp”?

Esta foi uma experiência que mudou minha vida, de uma forma que eu não poderia imaginar até chegar lá e ouvir as histórias. O projeto me deu oportunidade de entrar nos acampamentos e me aproximar das pessoas de lá, especialmente as crianças. Aquelas crianças que sobreviveram a tudo da guerra, fugindo de suas cidades e de seu país, perdendo seus pais e irmãos, algumas delas tiveram que viver com famílias diferentes porque perderam tudo e todos.
Essas crianças têm necessidades simples humanas, mas o que elas mais precisam é de amor e de viver a sua infância. O incrível é que elas ainda sorriem, apesar de tudo a que sobreviveram.
Nas minhas fotos, tentei documentar e mostrar parte de suas condições de vida, de suas infâncias perdidas e de suas histórias, mostrando como elas se tornaram fortes e sobreviveram a tudo.

Fadi Taher, divulgação.
Cartaz da exposição de Fadi na Alemanha.

Imagem do destaque: Fadi Taher, divulgação.

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