Minha vez – Minha casa fica longe da escola

30 de junho de 2015, 81 produtores se reuniram no CineArte (Conjunto Nacional, São Paulo), numa iniciativa da Free Press Unlimited e do comKids, para assistir documentários para jovens, debater sobre conceitos e formatos e conhecer o trabalho do diretor e produtor holandês Jan-Willem Bult (Departamento de mídia infantil da FPU). A partir daí, foram inscritos 20 projetos na convocatória Minha vez, que selecionou dois ganhadores , que receberão um valor para coprodução com a ONG holandesa, que por sua vez distribuirá os documentários brasileiros em mais de quinze países. Os trabalhos de pré-produção do projeto Minha vez já foram iniciados. A previsão é que os documentários fiquem prontos em dezembro de 2015.

Um dos projetos ganhadores se chama “Minha casa fica longe da escola”, de Roberta Asse e Marcelo Machado. O documentário de quinze minutos foi inspirado em um livro infantil (“A travessia de Maria menina”, Criadeira livros), que foi lançado no dia 12 de setembro e que se baseia em uma história real, uma menina que se encanta por um fenômeno que acontece no mar da região onde mora (Saco do Mamanguá, RJ), chamado ardentia. A história foi escrita após uma pesquisa sobre as infâncias, realizada em viagens pela autora Roberta Asse, em contato com as crianças dos lugares.

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Ilustração do livro “A travessia de Maria menina”, de Roberta Asse.

Nós conversamos com o Marcelo e com a Roberta a respeito do processo de gestação do projeto, da importância das regionalidades nas telas de programas para crianças e outros assuntos. Segue abaixo o que eles nos responderam:

comKids – Como foi o processo de criação da história do livro de “A travessia de Maria menina”? Qual a relação desse conteúdo com o projeto “Minha casa fica longe da escola”, vencedor do Minha vez?
O livro faz parte da Coleção das Crianças Daqui, oito livros cujas histórias são inspiradas nas infâncias que a Roberta Asse conheceu em viagens pelas cinco regiões do Brasil. Esta história foi criada a partir da visita e conversas que ela teve com as crianças do Saco do Mamanguá, próximo a Paraty, RJ. Lá conheceu alunos de todas as idades, que lhe contaram sobre festas, ardentia, mar e vida caiçara. Explicaram como é chegar ao quinto ano e ter que parar de estudar ou se mudar para longe. Foi nessa vivência que ela se inspirou para a criação da personagem Marina e foi ali que nos baseamos para desenvolver a história para o Minha Vez. Retornamos a locação e buscamos as crianças que forma a base para a criação do livro.

comKids – Em sua opinião, qual é a importância dos elementos regionais nas produções voltadas à infância?
No caso do Brasil, onde a base da identidade é uma grande diversidade – de etnias, de culturas, de biomas – as regiões expressam os ingredientes que fazem parte desse caldeirão onde se cozinha uma expressão brasileira. Quando as produções voltadas à infância deixam de considerar esses aspectos, é como se esquecesse ou ignorasse esse elemento formador que são as nossas especificidades e nossas diferenças. Fiz essa pergunta à Roberta também e ela respondeu:
“Para mim os elementos regionais dão significado à cultura e expressões de capacidades humanas universais, e na variedade destas expressões mora uma beleza sem fim. Valorizar estes elementos nas produções voltadas à infância é encantar e contribuir para a construção destes valores tão importantes e a noção de que pertencemos, cada um à sua maneira. No caso da coleção, este é um dos objetivos mais importantes: através do encontro destas infâncias diversas, gerar o sentimento de pertencer, ser brasileirinho”.

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Locação, Saco do Mamanguá (RJ). Foto: Roberta Asse

comKids – Você gostaria de deixar alguma mensagem aos criadores de histórias que frequentam nosso portal?

A inspiração no trabalho da Roberta tem a ver com seu encantamento pelo universo das histórias para crianças e sua certeza de que a criação se enriquece muito através da escuta das crianças. No meu caso, prefiro lhe contar uma história: ontem peguei um taxi e contei a história da rua onde queria chegar para o motorista. No caso eu sabia que a Diógenes Ribeiro de Lima se chamava originalmente Estrada da Boiada. Ele que vinha da Paraíba e vive na zona sul de São Paulo, se encantou com a idéia e fez uma conexão imediata com sua infância, onde bois e vacas marcaram presença. Ele fez a conexão de um lugar impessoal e frio com sua realidade mais intima me contando alguns casos de quando era menino. Por um minuto o mundo pareceu fazer sentido. Depois que paguei e desci, fiquei pensando na importância de saber contarmos nossas histórias.

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Evento de lançamento da coleção “Crianças daqui”, Museu da Casa Brasileira, 12 de setembro de 2015. Foto: divulgação.

Foto do destaque: Roberta Asse conversando com crianças durante a pesquisa que inspirou o livro. Foto: Walter Moreira

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