Políticas públicas e televisão infantil no Equador

O comKids entrevistou alguns profissionais do Educa, o canal educativo equatoriano. Nesta conversa, é possível saber mais sobre os seus princípios, as políticas públicas da televisão infantil no país e os projetos que vêm sendo desenvolvidos. Abaixo, veja as respostas elaboradas por Cecilia Novoa, Marcela Samudio, Paola Sanchez, Cliciani Neira e Mónica Maruri.

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Foto: divulgação

 

comKids – Qual é a faixa etária que delimita o segmento das crianças no Equador?

O Conselho Nacional para a Igualdade Intergeneracional diz que “as meninas e os meninos são os cidadãos entre 0 e 12 anos de vida. Isso significa que estão em um processo de crescimento e vivenciam mudanças corporais, psicológicas e em seus papéis sociais, assim como os demais segmentos populacionais” (trad. livre).

Segundo o Conselho, “mais do que as definições oficiais que os situam na faixa entre 12 e 17 anos de vida, os adolescentes são as pessoas que estão deixando a infância e que se aproximam da juventude. Isso faz com que compartilhem características de ambos os grupos de idade: em alguns aspectos, a necessidade de proteção da infância; em outros o protagonismo e as expectativas dos jovens.” (trad. livre) 

comKids – Qual é o grau de participação na vida política e cultural que as crianças têm no Equador?
O Conselho tem a responsabilidade de promover a formação de conselhos consultivos, formados por crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos.
Os conselhos consultivos de infância e adolescência são os espaços de participação para meninos, meninas e adolescentes de entre 8 e 18 anos de idade, sem discriminação alguma, que desejam expressar e compartilhar as suas ideias, opiniões e exercer o seu direito de participar na vida política, cívica e comunitária do país.
Formaram-se já 191 conselhos consultivos regionais de meninas, meninos e adolescentes. O conselho consultivo nacional é formado por 96 conselheiros nacionais de 24 províncias do Equador, dos quais 8 são coordenadores nacionais.
Os conselhos consultivos de meninas, meninos e adolescentes têm os seguintes propósitos:

• Participar na construção de políticas públicas, leis que os afetam, beneficiam ou interessam de maneira direta ou indireta.
• Contribuir na difusão de políticas públicas, leis e demais que os afetem ou beneficiem.
• Ser consultados diante das propostas de mudança a políticas, leis, resoluções relacionadas com o exercício de seus direitos.
• Elaborar de modo participativo propostas referidas ao exercício e à garantia dos seus direitos.
• Promover o real protagonismo de suas representadas e representados no exercício de seus direitos.
• Participar ativamente em assuntos de interesse comunitário que afetem a infância e a adolescência.
• Promover o cumprimento de direitos e políticas de infância e adolescência através dos mecanismos de controle social.
• Fomentar a integração e organização de meninas, meninos e adolescentes em níveis municipais, regionais, provinciais e nacionais.
• Promover a articulação e a coordenação com outros Conselhos Consultivos.

A participação na vida cultural deve considerar as atividades que se desenvolvem nos centros educativos e nos espaços comunitários.
A atividade cultural e esportiva é incentivada pelo Ministério da Educação através das atividades extraescolares, as quais se realizam fora da instituição educativa, organizadas e subvencionadas pelo município ou por organizações governamentais ou não governamentais que tenham convênios com o Ministério da Educação. Por exemplo, as escolas esportivas permanentes com o Ministério do Esporte.
Essas atividades extraescolares são experiências de interação entre pares, que permitem desenvolver ações de aprendizagem lúdica e bom uso do tempo livre, vinculadas à cultura, à arte, ao esporte, atividades ao ar livre entre outras.
Os centros de Desenvolvimento Comunitário (CDC) dos distritos regionais oferecem atividades culturais e esportivas permanentes nos bairros: dança-terapia, dança, apoio escolar, artes marciais, artes plásticas, música (piano e violão), entre outros cursos. Além disso, são oferecidos eventos culturais para a apreciação dos moradores. 

comKids – De modo geral, qual é a situação da TV infantil no Equador?
Não há canais de televisão infantis no país. Existe o canal público Ecuador TV, que mantém uma programação muito bem posicionada no público infantil.
Os canais comerciais não consideravam as crianças como um público atraente (economicamente ativo) e por isso deixaram de produzir para esse nicho de programação. Quando foi aberto o canal público, essa lacuna foi apontada, e ocupada com produtos adquiridos mundialmente de televisoras educativas, públicas e infantis do mundo, especialmente da Ibero-América e o espaço foi preenchido, chegando a ganhar em audiência dos canais comerciais. Os únicos programas apresentados em TV aberta eram produtos com altos conteúdos de violência ou sensacionalismo. (Mónica Maruri, Gerente do Projeto Educa)

comKids – Quais elementos da identidade equatoriana você considera que não estão representados na televisão para crianças neste momento de seu país?

Desde que a Ecuador TV e a Educa existem considero que nossas telas SIM representam a identidade das crianças do país. Nossos programas produzidos por empresas independentes com o acompanhamento do Educa apresentam a identidade e a cosmovisão das minorias e das populações de todo o território equatoriano. É uma televisão inclusiva, que mediante diversos formatos considera as crianças e adolescentes protagonistas. (Mónica Maruri, Gerente do Projeto Educa)

comKids – As crianças têm acesso à TV a cabo?
Os níveis socioeconômicos médio típico e médio alto assistem TV a cabo e muita TV comercial para meninos e meninas. Porém não é a maioria da população equatoriana. (Marcela Samudio, Marketing Educa).

comKids – Quais são os canais infantis (públicos e privados) mais populares do Equador?
Os canais infantis, a cabo, mais populares são: Nickelodeon, Nick Jr., Discovery Kids, Disney Channel, Disney Jr., Cartoon Network, Disney XD.
Reiterando que não há canais infantis na TV aberta, mas sim na TV a cabo, é possível se dizer que Ecuador TV e Educa ocupam esse espaço. O Educa conseguiu resultados muito bons, que se podem ver representados nos tipos de audiência que Educa realiza anualmente em sua mostra nacional. (Marcela Samudio, Marketing Educa)

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comKids – Qual a porcentagem de produção local que vocês têm? Existe alguma lei determinando essa quantia? Você considera que ela é de qualidade? Por quê?
A Ley Orgánica de Comunicación (LOC) que se promulgou em junho de 2013 estabelece percentuais de TV. Segundo ela, 5% da programação diária deve ser intercultural, difundir conteúdos dos povos e nacionalidade indígenas, afro-equatorianas e montubias, em suas próprias línguas, refletindo sua cosmovisão, cultura, tradições, conhecimentos e saberes (LOC, Art. 36)
O artigo 97 da LOC, Espaço para a produção audiovisual nacional, diz: “Os meios de comunicação audiovisual, cujo sinal é de origem nacional, destinarão, de modo progressivo, ao menos 60% de produção nacional independente, calculado em função da programação total diária do meio.
A difusão de conteúdos de produção nacional que não possam ser transmitidos em horário apto para todos os públicos será imputável à quota de programação que devem cumprir os meios de comunicação audiovisual. Para o cômputo do percentual destinado à produção nacional e nacional independente se excetuará o tempo dedicado à publicidade ou aos serviços de televenda” (trad. livre).
Inclusão. A lei orgânica de Deficiências diz:
Desenvolvimento progressivo de tradução com legendas, linguagem de sinais e sistema braile.
Emissão de um programa semanal de TV e rádio no qual as pessoas com deficiências possam interagir. (LOD, Art. 64, trad. livre)
Incorporar um intérprete de linguagem de sinais equatoriana e/ou a opção de legendado nos conteúdos de programas educativos, notícias e cultura geral. (LOD, Art. 64 trad. livre)
O portal web deve ter um acesso para as pessoas com deficiências para que ingressem à informação e à atenção especializada. (LOD, Art. 65, trad. livre)
A Cordicom, diz: difundir publicidade (produtos destinados à publicidade e à auto-promoção) com interpretação em linguagem de sinais (CORDICOM, Art. 10, trad. livre)
A qualidade da produção de TV Educa está assegurada pelo cuidado em todas as fases, desde a conceptualização até a difusão do programa no ar. As equipes interdisciplinares de Educa são as responsáveis desse segmento. 

comKids – Vocês trabalham e contato com outros países da região (projetos em comum, compra / venda de conteúdos, desenvolvimento de coproduções)? Poderia trazer alguns exemplos?

No Educa, nós enriquecemos e compartilhamos as experiências de produção de televisão educativa. É uma aprendizagem mútua, à qual aportamos de nossas aprendizagens como primeiro canal educativo do Equador.
As coproduções internacionais que temos atualmente são:
Programa Escuelas Latinoamericanas: Canal Encuentro (Argentina)
Programa Primera Persona: TV Ciudad (Uruguai)
Programa Valores Olímpicos: TV Escola (Brasil)
Programa Siesta Z: Productora El Perro en la Luna, INCAA, EDUC.AR (Argentina)
Programa Comuna Red: Televisión Española
(Paola Sanchez, Convênios Nacionais e Internacionais Educa)

comKids – Quais são as características do canal de vocês?
É um canal educativo, com programação para todos os atores da comunidade educativa, pais, crianças e docentes. Produzimos programas de televisão cujo principal objetivo é entreter com conteúdos educativos em formatos divertidos e interessantes.
Uma característica inédita na América e talvez no mundo é que, segundo as leis equatorianas, a programação de Educa está em todos os canais de televisão, em um espaço denominado “A hora educativa”. (Mónica Maruri, Gerente do projeto Educa)

comKids – Que filosofia o canal está desenvolvendo com relação à produção infantil?
A televisão de qualidade para gerar uma mudança cultural que permita a construção da sociedade de paz. Nesse sentido, o canal enuncia, em sua guia editorial, que acolhe o bem viver, que é o mote essencial da educação no Equador, para que sejam realizados os direitos à educação, o desenvolvimento das potencialidades humanas e a preparação dos futuros cidadãos e cidadãs para construir e viver uma sociedade democrática, equitativa, inclusiva, pacífica, promotora da interculturalidade, tolerante com a diversidade e respeitosa da natureza. (Cecilia Novoa, Conteúdos para o Bem Viver, Educa)

comKids – Como as equipes de trabalho estão se formando? Elas têm alguma formação específica? Qual tipo de formação elas possuem?
As equipes de trabalho são interdisciplinares para produção de televisão, geração de conteúdos, equipe pedagógica, equipe de marketing e equipe administrativa.
Os profissionais que trabalham na Educa tem uma ampla experiência nas suas áreas de trabalho e provém do mundo do rádio, televisão, produção e docência. 

comKids – Qual é o seu papel dentro do canal?
Sou analista produtora delegada de rádio. Supervisiono, controlo e reviso os produtos e conteúdos dos programas de rádio do projeto Educa. Ele aplica a metodologia de produção do canal Encuentro da Argentina com casas produtoras externas que são contratadas para produzir os nossos programas. Tais programas são revisados por especialistas de várias áreas para verificar que cumprem com os requisitos de qualidade pedagógica e de entretenimento.
A partir da experiência vivida no Brasil junto à equipe da Wadada, News for Kids estarei encarregada da produção do primeiro noticiário infantil e juvenil do canal Educa e do país. (Cicliani Neira, Analista produtora delegada de Radio)

comKids – Qual é a transformação / evolução que está acontecendo neste momento em seu canal?

Desde o dia 2 de dezembro de 2014, Educa tem o seu próprio canal, com emissão via aérea 28 UHF em Quito e 43 UHF em Guayaquil. Pensar, planejar e produzir para 24 horas, em vez de a Hora Educativa, gera uma nova dinâmica para desafios maiores. As equipes humanas geram redes de atuação capazes de responder ao novo desafio.
Considerando que o Educa faz, primordialmente uma gestão de rádio e televisão, sendo suas provedoras as empresas produtoras externas, um crescimento em profissionalização dessas empresas é bem visto, assim como um aprofundamento na qualidade que requer a televisão que entretêm com conteúdos educativos. Educa provê capacitação tanto para as equipes internas como para as externas. A população beneficiária são os meninos, meninas, docentes, e os pais e mães. Realizam uma grande mudança em suas preferências televisivas. O direito ao desfrute pela apreciação estética e de conteúdos vai gradualmente se instalando nos lares equatorianos. Isso trará como consequência cidadãos e cidadãs exigentes em seus consumos culturais em geral, e televisivos em particular. (Mónica Maruri, Gerente do projeto Educa)

 

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Foto: divulgação

 

 

 

 

 

 

 

 

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