Frankie for kids, processo e desafios de produção

A seguir, vejam um relato da equipe do Frankie for Kids, um app que ganhou o segundo lugar da categoria digital e interativa do Festival comKids Prix Jeunesse Iberoamericano 2013. Fizemos algumas perguntas aos produtores da Y+B Digital Content, e eles nos enviaram este texto cheio de reflexões sobre o processo de produção do app.

Por Samira Almeida

Fazer escolhas de inovação é uma atividade tão estimulante quanto difícil. Existe, claro, uma boa chance de sucesso e reconhecimento. Mas o que pouco se vê e se fala é que qualquer ideia, processo ou criação reconhecida é precedida de inúmeras tentativas, muito estudo e muito, muito trabalho para fazer dar certo. Mais que isso, é fruto de uma postura diferente, uma mania de buscar formas novas de executar as atividades, de sistematizar respostas a todo tipo de desafio do dia a dia.

Nesse sentido, gostamos de dizer que o livro aplicativo Frankie for Kids – que alcançou o segundo lugar na categoria Digital Interativa do ComKids Prix Jeunesse Iberoamericano deste ano – nasceu bem antes de outubro de 2012 (data do lançamento nas lojas). Quando, ainda na faculdade, tivemos longas conversas sobre um nascente banco de imagens colaborativo e gratuito (hoje um sucesso). Ou quando, poucos anos depois, criamos um sistema de busca digital para facilitar o clipping de produtos editoriais originalmente impressos – isso bem antes de se ouvir falar nos atuais usos de metadados ou parâmetros de SEOs.

Acreditamos que foi por causa desta visão de mundo que acabamos nos entusiasmando quando pensamos que poderíamos fazer a literatura entrar por uma seara diferente e, com isso, conquistar novos leitores. Achávamos que os aparelhos leitores digitais trariam maior alcance para o mercado editorial, mas que parte da riqueza dos livros infantis se perdia quando lidos em e-readers preto e branco. O Fernando Tangi é designer e ilustrador, sempre amou fazer livros infantis e um dia me fez a proposta de fato de um livro infantil interativo para tablets. Achei curioso aquilo, talvez impossível, mas definitivamente um desafio interessante! Respondi organizando o processo editorial, planejando o que seria feito e como.

Estávamos em meados de junho e queríamos testar novas possibilidades de leitura, com cores, movimentos e interatividades, mas tínhamos claro que queríamos um livro, não uma animação nem um jogo. A ideia era lançar algo com o máximo de repercussão e o mínimo de custo de produção. Fizemos as contas e escolhemos outubro por causa do dia das crianças e do dia das bruxas. Pesquisamos clássicos do terror com direitos autorais livres e a paixão por Frankenstein foi instantânea. Aquela ficção é, ainda hoje, muito atual e guarda muitas semelhanças com a nossa própria história: vontade, obstinação, estudo, invenção e todas as dificuldades que se criam quando se dá origem a algo novo, ainda não visto.

Para o apoio tecnológico, buscamos um antigo professor de programação do Fernando (Maurício), explicamos como pensamos em fazer e ficamos contentes quando ele disse que nunca tinha visto aquilo, mas que parecia possível de ser feito. Acabou se interessando pelo projeto e, semanas depois, já estávamos montando as primeiras páginas. Para chegarmos ao formato ideal, pelo menos duas grandes concepções de arte foram testadas antes e, além do original da obra, outras três versões foram lidas para recriarmos o clássico para um público mais jovem.

Como tínhamos interesse em ver como a plataforma funcionava em âmbito mundial (e isto não alteraria o custo de exposição nas lojas), decidimos fazer o Frankie for Kids inicialmente em duas línguas (português e inglês). Um amigo tradutor (Eugênio) fez a primeira versão em inglês e as revisões ficaram a cargo de dois outros especialistas (Denise e Renê).

De fato, foi um livro criado, em quase sua totalidade, a oito mãos. Horas de trabalho que só a sinergia de todos poderia transformar em criatividade e interatividade. O mais incrível, e ao mesmo tempo assombroso, neste tipo de projeto é que as regras, por ainda não existirem, podem ser criadas e delimitadas por quem de fato está criando. O dia em que o Frankie for Kids começou a ser vendido na Apple Store (ele também está disponível no Google Play e no Blackberry App World) e que, em poucas horas, começamos a ver notícias de blogs e portais de vários cantos do mundo sobre o que havíamos criado (em várias línguas, além do português e o inglês) … vivemos algo quase surreal cuja lembrança nos traz de novo alegria e, ao mesmo tempo, frio na barriga.

Foi exatamente um sentimento assim que nos tomou quando foi anunciado nosso segundo lugar no ComKids Prix Jeunesse Iberoamericano: estar na disputa com grandes empresas já era bom demais; imagine vencer! Na semana em que os projetos foram apresentados no festival, tínhamos vários trabalhos paralelos para serem entregues – já que boa parte da nossa empresa de criação editorial sobrevive com trabalhos de design, ilustração e conteúdo jornalístico e publicitário. De certa forma, estávamos esgotados. Mas o festival nos fez lembrar, com orgulho e alegria, tudo o que tínhamos vivido para criar o Frankie for Kids: as ideias, as surpresas, o suor e as alegrias. Por isso nos emocionou tanto receber um prêmio como este, diante de profissionais que admiramos, que pudemos conhecer e que, sem saber, nos incentivaram a seguir em frente.

Frankie for Kids

– Versão de Frankenstein, de Mary Shelley

– 39 páginas com textos em português e/ou inglês, ilustrações com sons e animações que exploram as possibilidades de interatividade dos tablets

– Indicado para leitores a partir de 9 anos

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