Qual o lugar da cidade para as crianças?

Repensar a relação entre a gestão das cidades e as infâncias é um tema urgente da modernidade cada vez menos acolhedora para crianças nos espaços públicos. Para muitas infâncias, brincar na rua e interagir com a vida dos bairros são experiências incomuns na vida dentro dos limites dos condomínios, de casa e da escola.

E se as crianças ganham em mais diversidade na educação e na qualidade de desenvolvimento com uma cidade que convida os pequenos a conviver mais do lado de fora da janela, a cidade também ganha em lugares de convivência mais saudáveis e seguros. Para falar dessa equação tão desafiadora para a sociedade nos saturados centros urbanos, o segundo Encontro com as Infâncias promoveu uma roda de conversa (21/5) com experiências criativas ao redor do mundo, inclusive em São Paulo.

A roda de conversa As crianças e a Cidade foi a segunda da programação de encontros deste ano criada pela parceria da UMAPAz (Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz) e a comunidade virtual colaborativa MIB (Mapa da Infância Brasileira). (Para saber mais do primeiro encontro, sobre Escuta de crianças e suas vozes, clique aqui.)

Assista o vídeo com o encontro!

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Roda de conversa “As crianças e a cidade”. Foto: Eduardo Ogata
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Roda de conversa “As crianças e a cidade”. Foto: Eduardo Ogata

A importância do caminho

A arquiteta e urbanista Irene Quintáns foi uma das convidadas do encontro e defendeu a cidade como um direito de toda a criança. Irene criou a Rede Ocara, que reúne projetos latino-americanos de cidades, artes, arquitetura e espaço público com a participação de meninos e meninas.

Em São Paulo, a urbanista foi idealizadora do projeto de mobilidade Caminho Escolar de Paraisópolis, que engajou 8,5 mil crianças da Educação Básica na comunidade local, na zona sul paulistana. Uma experiência para incentivar que as crianças aprendam a se locomover no trajeto para a escola de forma segura, com muito aprendizado pelo caminho e o envolvimento da sociedade em geral. “A cidade é para compartilhar, para conviver com as diferenças. O diferente está na rua”, afirmou Irene.

Lidar com mais diversidade faz um bem incrível para o repertório cultural das crianças, o que Raiana Ribeiro, da Associação Cidade Escola Aprendiz, valoriza como interação com agentes e linguagens para além da escola e do professor. Raiana também foi uma das convidadas do encontro e destacou o equívoco de avaliar a educação apenas como processo de escolarização. “Educação é um processo permanente ao longo da vida, que precisa contemplar além da dimensão intelectual: o afetivo, o social, o físico e o simbólico”, acrescentou.

Gestora do programa Cidades Educadoras, Raiana mostrou iniciativas inspiradoras para novas concepções de cidade com o engajamento e a inclusão das crianças, como Barcelona (Espanha) e Rosário (Argentina).

Crianças e comunidades

São Paulo também tem um projeto para promoção de políticas municipais voltadas ao desenvolvimento infantil, mais especificamente para a Primeira Infância (0 a 6 anos de idade), o Programa São Paulo Carinhosa. A primeira-dama Ana Estela Haddad coordena o programa e apresentou no encontro o projeto que combate a alta vulnerabilidade das crianças que vivem em cortiços na região do Baixo Glicério, no centro da capital paulista.

Na Baixada, a ação vem sendo desenvolvida de forma intersetorial, com várias secretarias municipais envolvidas para ações de pastas como as da Cultura, Educação, Saúde e Habitação. A CET tem feito estudos para a melhoria do trânsito e garantir a segurança de novos espaços públicos para as crianças da comunidade. “A gente melhora muito a infância quando melhora a vida das pessoas em geral”, resume Ana Estela.

Pensar no contexto de vida da criança é essencial também para Rodrigo Rubido, do Instituto Elos, a ONG que desenvolve projetos de construção de espaços de qualidade para comunidades em vários países do mundo, inclusive no Brasil. “Não há como salvar nenhuma criança sem salvar a comunidade dela“, disse Rubido.

Os próximos Encontros com a Infância terão como temas Expressões Infantis (6 de agosto), Diversidade (24 de setembro) e Transformação (26 de novembro).

Imagem do destaque: Roda de conversa “As crianças e a cidade”. Foto: Eduardo Ogata

Giovana Botti

Redatora do site

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