Três revistas infantis inovadoras
por Carolina Masci
Nos últimos dez anos, o conceito de “revista infantil” se transformou profundamente a partir das inovações tecnológicas e das novas demandas de conteúdo das meninas e meninos.
A revista infantil tradicional, aquela que é vendida semanalmente nas bancas de revistas e que combina recursos escolares com entretenimento analógico, como Billiken ou Genios, parece estar batendo em retirada. O formato em papel das revistas vinculadas às franquias mais populares de personagens animados (Toy Story, Batman e outras) persiste. Estas últimas oferecem imagens para colorir ou jogos de palavras. O que ocorre é que não têm uma identidade além dos produtos audiovisuais que lhes originaram e são mais caderninhos de jogos do que revistas.
Atualmente, o conceito de “revista infantil” está em plena transição. Comprar uma revista Interessa aos meninos e meninas? Se é assim, o formato impresso continua vigente ou foi destronado pelo suporte digital? E, quanto ao editorial, se a informação para a escola está disponível na internet, quais tipo de conteúdo uma revista infantil nos dias de hoje deve abordar?
Ao redor do mundo, alguns emprendedores corajosos responderam a essas perguntas e criaram revistas infantis diferentes, cheias de novidades e inspiradoras. Aqui lhes apresentamos três exemplos, bem distintos entre si, que vale a pena conhecer:
É uma revista inglesa artística e colorida, autodenominada “a revista feliz para crianças”. Editada cinco vezes por ano, em papel. Está dirigida ao público entre 6 e 12 anos e tem seu próprio app para iPhone e iPad.
Criada em 2006 por Cathy Olmedillas, uma mãe que decidiu montar uma revista diferente para o público infantil, Anorak se destaca por sua estética artesanal e pela qualidade dos ilustradores que convida para uma de suas edições temáticas. Além disso, cada edição conta com histórias originais em formatos variados e propostas de atividades e resenhas escritas por meninas e meninos. Se por um lado ela contém publicidade, a linha editorial se distancia do consumismo e da saturação – tão típicas das revistas infantis comerciais – e o resultado é um produto único e belo que se espalha ao redor do mundo e se atesoura como um item de colecionadores.
“A primeira revista para iPad dirigida às crianças” – assim Timbuktú é descrita por seus criadores italianos. Esta revista digital (não tem edição em papel), escrita em inglês, está dirigida a meninos e meninas de 6 a 10 anos. Nasceu em 2011 como um projeto experimental que combinava desenho, interactividade e o enfoque educativo Reggio Emilia em uma aplicação gratuita e amigável. Seu primeiro formato propunha uma experiência de navegação parecida à de uma revista (com páginas para folhear) e um conteúdo organizado em torno de um tema, com lindos desenhos e alguma coisa de interatividade. Com o passar do tempo, a iniciativa cresceu, Timbuktú migrou aos Estados Unidos e o formato mudou. A proposta atual é mais uma aplicação de jogos do que uma revista, que insere novos conteúdos periódicamente (muitos deles são pagos) e foi desenhada para ser o uso em família. Mesmo com essas transformações, Timbuktú continua sendo chamada de “revista”. Ela pode não ser a única revista infantil para iPad mas provavelmente ela é a mais original. Vale a pena segui-la.
Welcome to Timbuktu from Timbuktu Magazine on Vimeo.
BIG é uma revista australiana focada nas “artes criativas” que propõe uma premissa muito original: que artistas e crianças colaborem produzindo conteúdos. É um projeto amador de duas mães artistas e, embora tenha uma site, a revista é antes de mais nada uma proposta analógica e artesanal, editada em papel sem uma periodicidade fixa (até a data de hoje foram realizadas 4 edições).
Antes de cada edicão, é proposto um tema no blog da revista (Mapas de tesouros, À caminho da escuridão, Da semente ao céu) e todos os leitores são convidados a enviar suas criações. A revista se nutre delas: colagens, pinturas, arte digital e também de poesias e textos. Assim, a BIG (“Bravery, Imagination, Generosity”) explora um formato interativo no sentido mais tradicional do termo – crianças e artistas dão vida à revista – suas criações pretendem gerar uma vontade de criar em seus leitores. BIG é uma revista para a família, para ler uma e outra vez, para arrancar uma página e prendê-la na parede, para pegar uma ideia e transforma-la em desenho. Uma aposta nova e arriscada, da Austrália para o mundo.
Ilustração do destaque na revista BIG, por Zilasaule.