Para quais crianças produzimos?

No contexto que o comkids articula e faz uma série de atividades em prol da infância e da produção de qualidade, é  importante refletir sobre quem são essas crianças e adolescentes, para os quais tantos trabalhos são desenvolvidos. Quais seus interesses, habilidades, limitações e diferenças culturais, e como isso impacta na apreensão dos conteúdos e das estéticas a que estão expostos?

Pensando no Brasil, os resultados da Pesquisa PapagaioPipa (*), realizada pela MultiFocus com 1840 crianças e adolescentes de todas as classes sociais, entre 0 e 17 anos, nas 12 principais capitais brasileiras trazem, entre outras, duas constatações importantes:

1 – A primeira é que a web está encurtando distâncias e mudando a relação do público com as produções culturais nas diferentes classes sociais.  71 % das crianças brasileiras costumam acessar a Internet, seja via computador, celular ou tablet, e isso não é privilégio apenas daqueles que tem mais recursos.  Os dados compravam que ainda existe uma grande diferença de acesso entre as classes mais altas e as mais baixas, mas mostram também que, mesmo entre o público D e E, o contato com a rede faz parte do cotidiano de mais da metade das crianças. Os índices de acesso são de 85% na classe A e B, 72% na classe C e 52% nas classes D e E.

O que essa capilarização do acesso à Web significa? Ela comprova que as diferenças sociais em termos de contato com o mundo audiovisual diminuíram, e cada vez mais as crianças, independente do nível social ou da região, estão sendo alcançadas pelo que se coloca no universo virtual. Estamos diante de um alargamento das fronteiras do conhecimento, em que as crianças têm contato com novos interesses, diferentes mídias e diferentes padrões estéticos. Abre-se, com isso, um espaço para a interação criativa e as relações entre quem produz e quem recebe já não são mais as mesmas.

2 – A segunda constatação é que, cada vez mais, as crianças e adolescentes ingressam no universo da produção midiática. Segundo a pesquisa, o Youtube e os jogos online estão entre as preferências da nova geração quando conectada à web.  Essas atividades alcançam uma penetração acima de 60% na faixa de 7 a 11 anos, (64% entram no YouTube e 71% jogam online) . O contato com jogos e vídeos está presente também no cotidiano de mais da metade das crianças entre 4 a 6 anos (49% assistem vídeos no YouTube, e 87% jogam em sites de joguinhos ) e, segundo relatos das mães, já aparece desde a primeira infância. Crianças de 2 ou 3 anos são estimuladas pelos pais a brincar com joguinhos nos tablets e celulares..

Dentro desse ambiente povoado de estímulos audiovisuais, a nova geração exercita seu senso crítico, selecionando aquilo que gosta para assistir, curtir e viralizar. Mais de 20% das crianças e adolescentes declaram enviar e recomendar vídeos aos amigos. E as transformações na relação entre produtor e receptor não param aí.  Incentivados pela liberdade de criação propiciada por ferramentas como YouTube, blogs e redes sociais,  os representantes da nova geração começam a se aventurar e a compartilhar suas produções online Essa nova forma de contato com diferentes tipos de produção, tanto de conteúdo como de formatos e estéticas, vai aos poucos imprimindo às crianças um olhar mais crítico, exigente e seletivo.

Produzir para essa geração, que se conecta com o mundo audiovisual de uma forma cada vez mais ativa e interativa, é, sem dúvida, um grande desafio para os produtores. Encantá-los?  Mais ainda.

O comKids nos dá, como profissionais,  a oportunidade de conhecer, discutir e votar nos trabalhos de maior qualidade, tendo como parâmetros a produção, a relevância do conteúdo e sua  adequação ao target. Serão as crianças e adolescentes, no entanto, que darão a palavra final, com sua participação no júri infantil e suas reações à apresentação de cada trabalho.

(*) Fonte: Pesquisa PapagaioPipa 2013, realizada pela MultiFocus Inteligência de Mercado

http://www.facebook.com/PapagaioPipaQuadradoCafifa

Ana Helena Meirelles

http://www.multifocus.com.br/

Diretora do Midiativa - Centro Brasileiro de Mídia para crianças e adolescentes e da Multifocus

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